Por que larguei o jornalismo para me tornar fotógrafa?
Caso você não saiba, sim, sou jornalista por formação. Me lembro que ainda adolescente, entre a sexta e a oitava série, eu já comentava que sabia exatamente o que queria fazer da minha vida quando adulta. Meus professores, sabendo da minha facilidade em escrita e comunicação de modo geral, me incentivavam desde cedo, bem como minha mãe e avó. Na época (na verdade não sei dizer como isso funciona hoje em dia) lembro de alguns testes profissionalizantes, feitos com o intuito de auxiliar na escolha de uma possível e futura profissão. Eu fiz sete deles, SETE. Todos, ambos feitos entre a sexta série e o segundo do ensino médio, mostravam Comunicação em meus resultados. Eu acredite, tanto nos testes, quanto nos professores e na minha família.
Lembro também de comentários do tipo: "ah, mas todo mundo faz jornalismo, tu será só mais uma", e também: "ah, mas isso é profissão pra quem não sabe o que quer fazer". Juro que parei, repensei, até tentei me enganar procurando outro curso pra me profissionalizar. Não consegui. Algo de muito forte me prendia à comunicação. Ao jornalismo. Foi aí que minha personalidade falou mais alto, fiz o vestibular enquanto estava estudando no terceiro ano do ensino médio e, durante uma prova de Desenho Geométrico (não sinto saudades) recebi um SMS da Universidade. Eu havia passado, que demais!
Lembro da festa, do orgulho, da animação, da expectativa. Juro, tudo foi muito melhor do que eu esperava. Cheguei em casa e lá estava uma imensa faixa, para que todos pudessem ver. Ao entrar no meu quarto dezenas de balões coloridos. Sim, minha mãe se puxa em tudo que faz, principalmente quando diz respeito à mim. Agora era o momento mais aguardado, eu sentia que a fase adulta havia finalmente começado, eu ia para a faculdade, em outra cidade, com pessoas estranhas num ambiente desconhecido, mas coragem havia de sobra.
Você deve lembrar que em alguns posts aqui do blog já mencionei que a fotografia faz parte da minha vida desde muito cedo. Meu pai era fotógrafo à moda antiga e minha mãe sua assistente, algo que ainda funciona muito bem aqui na região da Serra Gaúcha. Então, qual o motivo de eu não tentar cursar fotografia, me profissionalizar em algo tão próximo à mim? Pelo simples motivo de que aquela fotografia não condizia com o que eu acreditava e nem acredito. Mas o que isso quer dizer então? Fotografar num cenário pronto, moldado, com roupas e decorações repetidas, sem expressões ou entrega, sem espontaneidade e conexão, enfim, aquilo desde sempre não fazia sentido pra mim.
Lembro que amigos da família diziam: "pô, Ana, tu vai ser fotógrafa e seguir os passos dos teu pai", eu automaticamente respondia: "se um dia trabalhar com fotografia, a única coisa que não farei é à moda antiga". Aquilo sempre ficou na minha cabeça, o desejo existia mas foi ainda mais aflorado nas disciplinas de fotografia durante o curso de jornalismo na faculdade. Assim que aprendi a técnica, a manusear uma câmera, à tirar tudo que ela têm a oferecer, decidi investir mais do meu tempo nesse possível hobby. Comprei um celular melhor, com uma câmera mais eficiente e nítida, adorava andar pelo pátio da minha avó e fotografar as plantas/flores com o orvalho da manhã.
Esse momento foi um divisor de águas pra mim. Eu entendia que não precisava ter apenas uma paixão profissional, eu podia lidar com duas. Foi o que fiz. Meus amigos diziam que eu levava jeito, meus familiares preocupados que eu largasse a faculdade, e eu agradecendo uns e tranquilizando os outros explicando que pra mim ambas as profissões se uniam, que eu dava conta delas. Assim eu fiz. Comprei minha primeira câmera, comecei com uns ensaios, e dividia meu tempo entre edições e criação de releases para a faculdade. Aprendi muito dos dois mundos e sou muito grata por isso ter andado junto à mim.
Quando me formei já era conhecida como uma boa fotógrafa, mas também já trabalhava na minha área de comunicação. Após a formatura adquiri um emprego concorrido na cidade e me dediquei mais ao jornalismo do que à fotografia. Mas não, não a deixei de lado. Fazia o possível para que nos finais de semana, depois do horário de serviço, eu pudesse atender clientes e exercer ambas as profissões que eu tanto amava (e ainda amo). A verdade é que esse emprego tinha um possível prazo determinado. Perdemos as eleições em 2016, saí da Prefeitura de Gramado e decidi, de uma vez por todas, dar voz à fotografia como ela merecia.
Criei um CNPJ, abri minha empresa e fortaleci a divulgação da mesma. Pra minha surpresa e gratidão, tive todo o apoio necessário. Aos poucos novos clientes foram surgindo, os antigos retornavam, e eu percebendo que agora sim estava onde eu sempre sonhei em estar. Não que o jornalismo não me preenchesse de alguma forma, mas a fotografia me transborda, entende?
Desde então, há quase 3 anos, estou com a câmera em mãos por tempo integral. Mas eu não podia, nem seria justo, dar adeus à comunicação. Por isso, amigos, que este blog dentro do meu site existe. Afinal, sempre sonhei em contar histórias através daquilo que faço. Nas fotos conto as histórias dos amigos, clientes, das famílias e das conquistas de quem me escolhe pra fazer parte de momentos assim. Já no jornalismo, aqui no blog, conto a minha história e relato pra todos vocês um pouquinho dessa experiência que está em pleno crescimento.
Por fim, larguei o jornalismo para viver de fotografia? Não exatamente. Abri um novo espaço pra registrar a vida, o jornalismo é cordial e cedeu um pedacinho do meu coração, da minha atenção, pra mais uma paixão.