Imagem capa - SOU FOTÓGRAFA DE PARTO por Ana Pacheco Fotografia

SOU FOTÓGRAFA DE PARTO

Acredito muito em essência, sabe? Naqueles ensinamentos que nos são passados lá no começo da vida, aqueles que fazemos questão de compartilhar com o mundo, aqueles que são bons e que podem, de um jeitinho ou de outro, transformar a nossa sociedade em algo melhor.

Eu fui criada, ensinada, para respeitar, pra aprender, pra ouvir. Nem sempre consigo fazer essas três coisas numa única vez, mas juro que tento. O respeito, meus caros, é o mais especial dos valores pra mim, sim, é ele que faz a diferença, que difere o bom do ruim, que nos faz entender que nem sempre é necessário concordar, mas é essencial (sim, essencial) respeitar. O aprendizado, bom, esse vem mesmo com o tempo, onde a observação e a empatia são necessárias, captar e capturar somente o que for preciso pra se tornar melhor. Ouvir, ah, esse é o mais complexo pra mim. Mesmo havendo divergência, mesmo a ideia não sendo a mesma, mesmo não havendo concordância, escute. Sério, ouça. Assim, da mesma forma, seja ouvido, a tua ideia pode ser mais compreendida, a forma como tu pensas pode atingir quem tu não imaginavas, saca?

A apologia que fiz a esses três itens é muito, muito bem encaixada nesse texto de hoje - sobre parto humanizado domiciliar. Mas, Ana, tu és fotógrafa de parto? Sim, sou fotógrafa de vida, de gente, de família, de momentos e de histórias. Portanto, sim, o parto está inserido no meu portfólio e confesso (perdoem-me os 99% de clientes que não se encaixam aqui) é o momento mais lindo, emocionante, engrandecedor e majestoso que eu tenho a oportunidade de clicar.



Como mulher já nasci sabendo que, infelizmente, a sociedade me diminui, me coloca abaixo de um determinado nível, me subestima e me entristece. Não preciso nem citar aqui o número de violências, preconceitos e obstáculos que nós, mulheres, precisamos encarar todo santo dia. Mas sabe o que deveria ser pauta, ser debatido, ser usado como resposta? Nós damos a vida! A minha, a sua, a de todos nós. Mais lindo ainda quando isso acontece com o dito respeito, quando a nossa força e nossa garra são capazes de transformar, de gerar, de parir um ser humano. É lindo isso, gente.

Além de gerar, pertencemos a diferentes raças, com diferentes colorações, pesos, sexualidades, tamanhos... Tudo isso junto é bonito por demais. Sábios são aqueles que entendem essas diferenças e as transformam em união.

Tudo isso passa pela minha cabeça ao ver uma mãe com dor, se contorcer numa contração, comemorar cada centímetro de dilatação. Parece que ali tudo é deixado de lado, parece que o foco é somente o nascimento, a nova vida, o novo ser que chega e já é muito amado. O momento se torna deles, da mãe e do filho, que mesmo no ventre escuta, entende e sabe o caminho a ser percorrido. Ah, essa natureza, como ela é sábia. Já pararam pra pensar o quanto podemos aprender com aquilo que é natural? Que não pode ser mudado ou extinto?



O parto humanizado nada mais é que os desejos da mãe serem atendidos, onde nada fuja daquilo que ela quer, onde tudo que acontece é sob o consentimento dela. As violências obstetrícias me apavoram, eu que ainda serei mãe e desejo (do fundo do coração) passar por cada semana, cada mês, cada dia sabendo que aquilo que eu quiser será feito, será realizado, será respeitado.

Dizem por aí ser 'modinha' parir um filho em casa. Sério? Como você acha que minha bisavó e suas irmãs, a tua avó ou tia, teus entes mais velhos, tiveram sua prole? Que saibamos, sempre e sempre, entender que o que é bom para a gente não fica ultrapassado, que se nos cabe e é do nosso agrado deve ser feito, que parir um filho é NATURAL, que o corpo da mulher (na grande maioria das vezes) é preparado pra isso e aguenta sim tamanha dor.

Que nos comparem aos animais, afinal, somos um também. Tudo acontece naturalmente, com força e persistência, onde os filhotes nascem, são lavados pela própria mãe e, na forma de instinto, procuram o seio pra se alimentar. Sabia que isso acontece de uma forma idêntica com o ser humano? Sim, eu vi. Estive lá. Presenciei a criança nascendo, sendo colocada diretamente no colo de sua mãe, sem pressa, sem correria, sem luzes no rosto, sem bisturi e mãos estranhas. Ali, encaixada e ouvindo o bater do coração que já escutara antes, o bebê cheira, percorre o seio e encontra o próprio alimento.



É, sem dúvida alguma, a coisa mais linda de se ver, de se presenciar. É um presente imenso fazer parte dessa escolha, dessa história que inicia. É grandioso ser a responsável pelas primeiras imagens de um filho, retratar os últimos momentos de espera, o primeiro abraço, o primeiro choro, a primeira conexão. Ser fotógrafa é gratificante a cada trabalho, mas se torna o melhor trabalho do mundo num momento assim. Juro. Quisera poder fotografar algo assim todas as semanas, me tornaria um ser ainda mais iluminado, com mais energia boa e vibrações pra um mundo cada vez melhor, mais justo.

Portanto, sim. Sou fotógrafa de parto, chego no comecinho do trabalho e saio após os ânimos se acalmarem. Já fiquei 21 horas, 5 horas, o tempo que for necessário ao lado dessa mãe que, deseja desde o começo da gestação, compartilhar e enaltecer o poder que ela tem. Somos heroínas, gente. Não é à toa que o nosso corpo foi o escolhido pra abrigar tamanha responsabilidade. É lindo chegar, fazer silêncio, ver o baixar das luzes, saber que as fotos vão pixelar pela baixa luminosidade, mas saber - acima disso -  que o sentimento mais bonito estará registrado ali.

Agradeço todos os dias por isso. Torço para que cada um de vocês tenha, pelo menos, a possibilidade de presenciar um nascimento bem de perto. Um nascimento que envolveu respeito, acima de tudo. A gente renasce junto, sabe? A gente deposita fé na humanidade e deseja que esse ser, além de todos nós, seja melhor.

Que venham os próximos momentos inesquecíveis, que eu possa compartilhá-los com vocês. Desejo isso pra sempre!